Na quadra todos são iguais, heróis e vencedores de suas próprias histórias. Três jogadores de cada lado tentam atacar e proteger um gol de nove metros de largura em uma quadra equivalente à de vôlei. Com arremessos rasteiros, tentam ultrapassar a defesa e conquistar o gol, que muitas vezes é defendido com fortes boladas na barriga e nas pernas. Pode parecer simples, mas os jogadores não enxergam e se orientam apenas com a audição. Este é o goalball, uma das várias modalidades esportivas para pessoas com deficiência visual que tem revelado atletas paraenses para competições estaduais, nacionais e internacionais. Só nos VIII jogos Paralímpicos 2015, promovido pelo Núcleo de Esporte Lazer (NEL), por meio da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) em agosto, participaram 191 atletas de judô, natação, atletismo, bocha, futebol e goaball.
O Pará já é considerado pelo Comitê Paraolímpico Brasileiro como um Estado de talentos no esporte. De 2011 a 2014, os paratletas paraenses conquistaram 105 medalhas de ouro, 82 de prata e 82 de bronze nas Paralimpíadas Escolares Nacionais. O melhor resultado foi em 2013: 111 medalhas. Este ano, 59 paraenses já foram selecionados às Paralimpíadas Escolares Nacionais no Rio Grande do Norte, entre 23 de 28 de novembro.
Podem participar do goalball jovens com baixa visão ou perda total, de acordo com a avaliação técnica do comitê. Para ficarem em igualdade na quadra, eles utilizam um tipo de viseira vedada para vedar a luz. A bola especial, do tamanho de uma bola de basquete, tem pouco mais de um kilo e traz guizos que sinalizam a posição e o movimento quando é arremessada.
A gargalhada e a firmeza na voz revelam a determinação de Mariana Oliveira, 18 anos, atleta de goalball há quase três anos e apaixonada pelo esporte; antes disso se dedicava à natação. Mariana é deficiente visual, mas quando coloca os óculos oficiais, sua audição percebe cada lugar sinalizado pela bola em quadra.
“O goalball começou pra mim em 2014. Como eu treinava no mesmo local que eles, a professora Kátia me permitiu participar a partir dos 15 anos, pois eu era muito pequena. De lá pra cá eu já participei do campeonato Centro Norte de Goalball no Mato Grosso, outra competição em Campo Grande e este ano estivemos em Cuiabá de novo. Foi muito legal sair de Belém para competir. Já estamos nos preparando para o próximo regional em 2016”, diz Mariana.
Nas escolas, os alunos são selecionados nas atividades especializadas de educação física e encaminhados ao NEL para orientação e treinamento.
“Há oito anos, a gente desenvolve o campeonato escolar paraolímpico onde os alunos participam para representar o Pará nacionalmente.A partir dos jogos estaduais, eles já estão habilitados a participar das seletivas para outros campeonatos como o parapanamericano”, explica Ana Glória Nascimento, coordenadora do NEL e diretora geral dos jogos. De acordo com a coordenadora, as modalidades que tem trazido os melhores resultados para o Pará e para o Brasil recentemente são o judô, o Goalball (com atletas paraenses convocados para a seleção brasileira), além da natação.
APOIO
“O Comitê Paralímpico Brasileiro nos auxiliou por três anos com o projeto clube escola e desde 2013 nós estamos nos trabalhando apenas com o apoio do Estado, por meio de programas e secretarias parceiras, que garantem os espaços para os nossos atletas treinarem, educadores, psicólogos, terapeutas, custos com alimentação e hospedagem. No caso das competições nacionais, esses custos são do próprio Comitê”, detalha Ana Glória.
No Pará, o Plano Estadual de Ações Integradas a Pessoas com Deficiência, chamado Plano Existir, apoia esses atletas. O plano reúne 15 órgãos do Governo em torno de saúde, educação, acessibilidade e inclusão social. Os órgãos são estimulados pelo Plano Existir para garantir o direito das pessoas com deficiência.
“Quando o NEL faz esses jogos, os participantes entendem que é preciso possibilitar à juventude o direito ao esporte e ao lazer. O fato de proporcionar aos jovens a eliminação de barreiras faz com que tenham a possibilidade se desenvolver também nessa área de esporte e de cultura. A Fundação Cultural do Pará, por exemplo, tem hoje no Centur uma biblioteca inclusiva com todas as possibilidades para pesquisa e leitura, a Secretaria de Esporte de Lazer tem também a bolsa talento para os jovens que estão estudando”, explica Meive Piacese, coordenadora do Plano Estadual de Ações Integradas a Pessoas com Deficiência.
Max Diego Nascimento, 24 anos, é um paratleta experiente do Goalball. Deficiente visual, ele já participou de duas competições escolares e três na categoria adulto, desde 2007. Sua primeira competição nacional foi em Brasília, onde o time paraense foi campeão nacional.
“Participar dos treinamentos e dos campeonatos foi bom porque eu aprendi muita coisa. A professora Kátia, nossa treinadora, é uma pessoa maravilhosa que cuida e gosta da gente. O Goalball me ajudou muito na locomoção, confiança, audição e atenção. Na categoria adulta o nível é alto e muito forte, mas a gente se dedica ainda mais. Daqui pra frente eu já penso em fazer vestibular para informática ou administração”, diz Max.
A professora e treinadora do time de Goalball no NEL, Kátia Tadaieky, diz que o esporte modifica a vida dos alunos. “O Goalball traz a educação psicomotora deles, que fica prejudicada devido à falta da visão. Essa atividade traz de volta a autoconfiança, o respeito, a autoafirmação por meio do esporte. O Goalball também ajuda na interação social e dentro da família, pois quando o deficiente se torna um atleta ele é mais valorizado. Quando a gente soma todos esses benefícios, isso se torna uma grande ação de inclusão e cidadania”, explica a professora.
BRENDA
A jogadora Brenda Taiane Leal, 16, tem deficiência intelectual e visual, enxergando apenas com um dos olhos. Ela tinha dificuldades de andar e para se comunicar com as pessoas. A avó, dona Almira Leal, 67, diz que soube por meio de uma vizinha do treinamento no NEL e resolveu levar a neta para experimentar. “Já faz três anos que a Brenda começou a jogar e ela já participou de competições em São Paulo e Mato Grosso do Sul. A gente vê como ela fica feliz e voltou a falar com as pessoas”, diz dona Almira, que acompanha a neta duas vezes por semana de sua casa no Guamá até a quadra na sede do NEL.
“É impressionante a evolução da Brenda. Nós a consideramos uma ótima atleta, com um dos melhores arremessos. O resultado desse tempo de convivência e treinamento pode ser visto dentro e fora da quadra”, diz a professora Kátia.
Fonte: (O Liberal) ormnews.com.br